Resenha

O filme Amarelo Manga de Cláudio Assis conta a história dos moradores da periferia de Recife, que têm de lidar com uma série de situações e conflitos que ocorrem ao longo de um único dia. No decorrer da obra diversos temas são tratados, como a hipersexualização da mulher, a realidade da pobreza no Nordeste e o preconceito envolvendo a prostituição.

O longa é, sem sombra de dúvidas, visceral. Cenas violentas que expõem a pior parte do ser humano permeiam o enredo formando uma narrativa indigesta, expondo o anonimato de uma parcela da população nordestina que nasce e morre sem deixar vestígios, afinal como diz o Padre, “Morreu como nasceu: anônimo, anônimo.” Nessa mesma cena, é feita uma reflexão sobre a busca que fazemos pelo significado da morte de alguém.


Apesar de tudo, o filme não é sombrio. Suas principais cores, amarelo e laranja, tornam o ambiente dramático e convidativo, além de transpor a verdadeira temperatura de Recife. Em contrapartida, temos a ação do azul e do verde, cores frias presentes nas roupas dos cidadãos, que equilibram a cena.


Ao acompanhar a vida de cada personagem se torna impossível achar um que seja o principal, na verdade encontramos um grande protagonista; o povo brasileiro. Isso se justifica na medida em que o filme te convida para dentro dele, te oferecendo um prato de comida ou um lugar na mesa do bar de Lígia.


A obra toca também na questão da religiosidade e como esta contribuiu para a criação de um imaginário da figura feminina, muito ligado à sexualidade e tendo como ponto de vista o olhar masculino, como é o exemplo de Kika, uma evangélica que leva uma vida submissa, e Dayse que é chamada de “vagabunda” pelo próprio pai, quando este descobre seu caso com Kanibal.


Amarelo Manga apresenta uma proposta interessante por tratar de uma temática marginalizada no Nordeste, utilizando de elementos visuais impactantes e personagens mundanos que representam o povo brasileiro.

Texto: Pessoa

Imagem: Outra Pessoa