Enfim, o povo é quem mais ordena!


O que é uma revolução? O que leva um grupo de pessoas, seja ele grande ou diminuto, a tentar uma mudança tão radical nas entranhas da sociedade? O 25 de Abril, para muitos foi apenas mais um dia no calendário, para outros um dia onde as sementes para uma nova estação de cravos clamando pelo florescer da liberdade foram plantadas. Carregado como um dos dias mais importantes da vasta historiografia portuguesa, foi nele, há aproximadamente 51 anos, que uma leva de soldados pertencentes ao Movimento das Forças Armadas (MFA) marcharam em direção à capital Lisboa para derrubar um regime autoritário. Entretanto, para entender o que se passou naquela quinta-feira em meio ao caos político português, precisamos voltar para muito tempo atrás numa retomada breve de todo contexto prévio a tal evento.

Evidentemente, as raízes de tudo estão fincadas justamente no Estado Novo, obra de Oliveira Salazar e seus seguidores. Tal concepção de Estado, inspirada profundamente no fascismo italiano e com aspirações colonialistas, seria posteriormente o alvo maior da insurreição protagonizada pelos Capitães de Abril, nome com o qual os revolucionários do MFA ficaram posteriormente conhecidos. O governo de Salazar pode facilmente ser assimilado ao de Franco na Espanha ou fascistas europeus surgidos no pós 1a Guerra. Porém, é evidente que esta, o Estado Novo português liderado por Salazar e Caetano, foi uma das mais duradouras dentre as citadas anteriormente, durando de 1933 a 1974. Para efeito de comparação, a ditadura Franquista na Espanha perdurou de 1939 a 1975, mostrando a forte onda de regimes autoritários que pairou sobre a Europa nesse período e como era difícil derrubá-los.

Durante cerca de 42 anos, o povo da Terra das Quinas foi submetido a uma forte repressão às liberdades individuais e a um regime ditatorial altamente autoritário, experimentando a sensação de falta de poder de decisão e tendo de assistir ao país definhar em todos os âmbitos, passando por violentas lutas coloniais que eram extremamente custosas ao Estado e por uma severa crise econômica. Com isso, militares, descontentes com toda situação na qual se encontrava Portugal, marcharam em direção a Lisboa e, sem disparar nenhum tiro nem matar civis, tirar o fardo do fascismo na sociedade portuguesa, ou pelo menos aliviá-lo, como discutiremos a seguir. Os cravos, flor da primavera, foram colocados pelas vendedoras no cano das armas dos soldados, batizando a Revolução.

O legado e o simbolismo deixado pelo 25 de Abril de 1974 é complexo, mas não deixa de ser ao menos curioso que logo após o aniversário de 50 anos da Revolução, não só Portugal como o mundo, presencia uma nova ascensão da extrema direita e que no mesmo ano em que foi completado meio século desde os acontecimentos do dia em que cravos floresceram, o Chega!, partido da extrema direita portuguesa, alcançou números alarmantes na quantidade recorde de deputados eleitos e da decadência, se é que podemos inferir desta forma, da esquerda portuguesa, especialmente ao observar que, juntos, o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP) não alcançaram sequer a marca de 10 deputados eleitos dos 230 assentos parlamentares, provando mais uma vez que a máxima da história “Povo que não sabe sua história está fadado a repeti-la” nunca esteve tão correta e presente em nossas vidas.


Guilherme Renaud